O uso de Androgênios é muito prevalente no mundo atual. Muito do uso é devido ao abuso de Androgênios entre atletas e fisiculturistas, aonde a venda ilegal de androgênios alcançou proporções epidêmicas. Androgênios têm sido prescrito para uma gama enorme de condições clínicas nestas últimas décadas. Apesar da prevalência do uso ilegal e legal de androgênios, o estudo dos efeitos e benefícios da Terapia de Reposição Hormonal (TRH) no homem está muito atrasado quando comparado com os estudos envolvendo o uso de estrógenos na TRH da mulher. Só agora começamos a entender o papel deste hormônio no processo de envelhecimento.
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Fisiologia AndrogênIca Normal
O nível de Testosterona é muito baixo em meninos antes da puberdade. Na
puberdade, a secreção pulsátil de GnRH leva a hipófise anterior a
produzir LH e FSH. O LH induz as células de Leydig nos testículos a
produzirem testosterona, que resulta no desenvolvimento dos caracteres
sexuais secundários. À medida que os níveis de Testosterona e seus
metabólitos aumentam na circulação, há um feedback negativo com a
produção de GnRH no Hipotálamo e de LH e FSH na hipófise.
Níveis de testosterona intratesticular elevados é um pré-requisito
absoluto para produção de esperma. Os níveis de testosterona nos túbulos
seminíferos permanecem alto devido à proximidade das células de Leydig e
também pela ligação nos túbulos da Proteína Ligadora de Androgênios
(ABP). Esta ligação com ABP provavelmente evita flutuações dos níveis
de Testosterona mantendo um reservatório de hormônios imediatamente
disponível para suprir mudanças na produção. Apesar do hormônio
Testosterona ser o único requisito absoluto para produção espermática,
FSH tem um efeito potencializado nas células de Sertoli para
espermatogênese normal. Um peptídeo, inibina, é liberado na circulação
pelas células de Sertoli, e é responsável pelo feedback negativo do FSH
na hipófise.
A Testosterona circulante está presente de várias maneiras. Testosterona
pode estar presente como hormônio livre (sem ligação a proteínas), ou
fracamente ligado à albumina, ou ainda ligado a Globulinas Ligadoras de
Hormônios sexuais (SHBC). A testosterona ligada a SHBC não está
disponível para atividade biológica. A testosterona livre ligada a
ligada a albumina é denominada Testosterona biodisponível
A Testosterona é convertida a outros compostos importantes na circulação
e tecidos periféricos. Dehidrotestosterona (DHT) é produzida pela
redução da 5-a-reductase, que está presente no tecido genital, pele e
próstata. DHT é responsável pelo crescimento prostático e por outros
efeitos tróficos no tecido prostático. Estradiol é produzido pela
esterificação de testosterona. A conversão de Testosterona para
Estradiol pode estar aumentada em homens obesos e em homens com falência
hepática. Níveis elevados de Estradiol podem fazer feedback no eixo
hipotálamo-hipófise-gônadas diminuir a secreção e liberação de
Testosterona. No adulto, Testosterona e DHT são necessárias para manter a
libido, potência, forças musculares, distribuição de gordura, massa
óssea, eritropoiese, crescimento prostático, crescimento do pelo
masculino e espermatogênese.
Repercussões no Homem pelas mudanças dos níveis de Testosterona
Não há no homem uma sintomatologia rica como visto na peri-menopausa na
mulher. Na mulher a menopausa é causada pela falência quase que completa
dos ovários. No homem não existe falência completa dos testículos, e as
mudanças hormonais ocorrem mais lentamente. Evidências laboratoriais
podem ser detectadas pela diminuição dos níveis de Testosterona
biodisponível, níveis elevados de LH e a resposta do LH ao GnRH.
Apesar dos níveis de Testosterona diminuírem com o passar da idade,
ainda é questionável se e quanto das mudanças generalizadas do
envelhecimento, como impotência, diminuição da libido, mudanças no SNC,
são devidas a diminuição dos níveis circulantes de Androgênios. Como
ainda não está bem estabelecido que estas mudanças são devidas a
deficiências hormonais, um declínio nos níveis de testosterona
circulante não pode ser tomado como um marco para a terapia de reposição
hormonal, pois afinal, estas mudanças são também relacionadas à idade.
Um exemplo é a disfunção erétil, aonde a única anormalidade que pode ser
detectada é o nível baixo de Testosterona. A TRH nestes casos pode ser
benéfica, mas na grande maioria dos pacientes pode ser identificado uma
prevalência muito alta de insuficiência arterial peniana, disfunção
tissular resultado de vazamento venoso, e problemas de neuropatia, e
nenhum destes problemas não vai ser resolvido com Reposição Hormonal.
O Diagnóstico do Hipogonadismo
A Terapia Hormonal é de REPOSIÇÃO, portanto, o diagnóstico de
hipogonadismo é condição essencial e necessária para inicia a terapia de
reposição hormonal. Como já foi mencionado anteriormente, no homem, não
há uma sintomatologia vasta como existe na mulher. O diagnóstico, como
em toda patologia, deve ser feito após o seguinte roteiro: 1) História
Clínica; 2) Exame Físico; e 3) Avaliação Laboratorial.
História ClínicaO que avaliar |
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Exame FísicoO que procurar |
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Avaliação Laboratorial O que Solicitar |
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Benefícios em potencial com a Terapia de Reposição de Testosterona
Existem mudanças pertinentes a idade que não podem ser corrigidas com a
Reposição Hormonal, mas vários são os benefícios desta terapia quando
bem indicada.
1. Função Sexual. A libido é influenciada por vários fatores
entre eles os níveis circulantes de Testosterona no homem. Evidências em
animais de laboratório sugerem que testosterona tem, além do efeito
sobre o Sistema Nervoso Central, efeito direto no tecido peniano. Óxido
Nítrico é o principal mediador da ereção peniana e foi demonstrado que a
síntese de óxido nítrico no tecido peniano é androgênio dependente.
Portanto, além do efeito central da administração de Testosterona em
indivíduos hipogonádicos, é possível que a produção deficiente de óxido
nítrico no tecido peniano leve ao relaxamento inadequado do tecido
muscular peniano e pobre qualidade de ereção, e a administração de
testosterona corrija esta alteração periférica. Em homens com níveis de
Testosterona Total e/ou Biodisponível baixos e tem dificuldades com a
função erétil, a terapia com Testosterona pode ser tentada antes de ser
tentado testes invasivos ou outras terapias. Quando a disfunção erétil
se resolve com a administração de Testosterona, a investigação pode ser
interrompida. No entanto, como mencionado acima, muitos homens idosos
com impotência têm várias causas em potencial para levar a disfunção
erétil, e a administração isolada de Testosterona não vai resolver o
problema do paciente. Nestes casos o médico vai ter que usar de seu
julgamento clínico para continuar ou não a terapia de reposição
hormonal.
2. Composição corporal e força muscular. A reposição com
esteróides androgênicos podem levar a mudanças benéficas na composição
corporal. Administração de Testosterona pode levar a diminuir massa
gordurosa, aumentar massa magra e aumentar força muscular. Doses
suprafisiológicas de androgênios se mostraram efetivas em aumentar a
força muscular, mas talvez as custas de complicações importantes.
3. Osteoporose. A massa óssea diminui com a idade,
independente dos níveis de Testosterona. No entanto, o declínio deste
hormônio pode acelerar a perda de massa óssea. Poucos estudos existem
avaliando o efeito benéfico da Terapia de Reposição Androgênica sobre o
ganho de massa óssea. Estudos em indivíduos que não tinham receptor para
estrogênios ou deficiência de aromatase (que converte Testosterona em
Estradiol) mostram que estrogênios é mais importante que androgênios na
formação da massa óssea.
4. Sistema Nervoso Central. Há evidências de melhora da
cognição espacial com a TRH, assim como da sensação de bem estar. Mas
esta é uma área que ainda necessita muitos estudos.
A Terapia de Reposição Hormonal
Quando a terapia de reposição de testosterona é indicada, o princípio
básico é simular a concentração normal de testosterona (350-1050 ng/dl) e
seus metabólitos ativos, evitando níveis suprafisiológicos e seus
possíveis efeitos colaterais, ou baixa concentração de androgênios.
1. Medicações de uso oral. Testosterona pura não pode ser
dada via oral porque após a primeira passagem pelo fígado a quebra é
substancial e pouco efeito androgênico será visto. Formas alquiladas de
Testosterona são mais resistentes ao metabolismo hepático e podem
exercer um efeito clínico quando administrada. As formas alquiladas são
menos potentes que Testosterona em si, e a eficácia é comprometida pela
absorção irregular e graus variados de degradação no fígado após a
primeira passagem. Undecanoato de Testosterona é absorvido pelos
linfáticos do intestino e não passa por estes problemas, mas por outro
lado pela meia vida muito curta, o individuo pode vir a necessitar de 4 a
6 comprimidos/dia.
2. Medicações injetáveis. Esterificação de testosterona na
posição 17 com ácido propiônico ou enantico prolonga a retenção e a
duração da atividade da testosterona. Entre os vários ésteres
disponíveis aqueles que têm meia vida adequada para uso clínico são o
enantato de testosterona ou ciclopentilpropionato (Cipionato de
Testosterona). Ésteres de Testosterona têm certas vantagens sobre os
agentes injetáveis. Eles são resistentes a quebra hepática, e liberados
lentamente na circulação, e são hidroxilados para testosterona mesmo. O
efeito biológico destes ésteres pode ser idêntico o da Testosterona. A
dosagem costumeira é de 100 mg/semana ou 200 mg a cada duas semanas. A
administração de 300 mg a cada três semanas ou 400 mg a cada quatro
semanas já foi tentado, mas vão existir períodos ce concentração
circulante de testosterona muito elevados seguidos de períodos de níveis
inadequadamente baixos.
3. Medicações em forma de Adesivos (patches). Existem várias
apresentações, mas infelizmente nenhuma no mercado brasileiro.
Testosderm® é um adesivo que deve ser usado na pela da bolsa escrotal e
colocado pela manhã. Nesta localidade a absorção da pele é aumentada
devido às propriedades da pele escrotal. Este adesivo pode ficar
discretamente escondido. As desvantagens incluem a necessidade de
depilar esta área, e a elevada atividade da enzima 5-a-reductase na
região escrotal. propiciando elevação inadequada dos níveis de DHT. As
apresentações do Testosderm® são de 4 e 6 mg. O pico plasmático ocorre
entre 3 a 5 horas. Foi desenvolvido para aplicação em regiões não
escrotal o Testoderm TTS®.
Androderm® é o adesivo que pode ser usado em qualquer área do corpo.
Devido à espessura da pele e a relativa resistência da absorção da
testosterona é necessário colocar "permeadores" junto com ao veículo
destas drogas. No entanto, estes permeadores podem levar a irritação da
pele. Um adesivo de 5 mg deve ser colocado em superfície plano da pele,
fora dá área de articulações onde movimentos do corpo. Os adesivos são
colocados a noite. Os sítios são rodados numa base semanas para não
serem colocados nos mesmos lugares. A desvantagem deste adesivo é por
ser colocado num local não muito discreto.
Ambos adesivos quando colocados no horário adequado do dia, causam um
aumento dos níveis de Testosterona pela manha e diminuem para níveis
normais baixos à noite. Portanto, a administração dos adesivos para
imitar melhor as variações diárias de testosterona. Os adesivos ainda
não são fabricados no Brasil.
4. Gel tópico. Absorção do gel, gel hidro-alcoólico 1%
transdérmico, que se aplica uma vez ao dia, ocorre de maneira contínua.
Provavelmente a pele age como um reservatório da substância. A dose
aplicada é de 100 mg ao dia, e aproximadamente 10% da dose aplicada é
absorvida. Esta forma de aplicação ainda não está disponível no Brasil.
Possíveis Efeitos Adversos da Reposição Hormonal no Homem
1. Hepatotoxidade. As formas alquiladas de Testosterona,
que é a apresentação oral, podem levar a situação de toxidade hepática.
Indivíduos em uso de testosterona, em qualquer apresentação, é prudente
fazer avaliação da função hepática freqüente.
2. Retenção Hídrica. A TRH no homem pode levar a retenção
hídrica, mas não há dados concretos de que mostram complicações clínicas
pela retenção de água. Mas se recomenda cuidado em pacientes
hipertensos ou em Insuficiência Cardíaca Congestiva. Ganho discreto de
peso devido à retenção de água também já foi demonstrado.
3. Eritropoiese. Androgênios podem aumentar o hematócrito.
Dois estudos mostraram aumento no hematócrito entre 3.6 a 7.0% em
pacientes idosos recebendo suplementação de testosterona. Em geral, este
aumento no hematócrito pode ser medido, mas não tem repercussão
clínica. Muitos homens idosos são anêmicos, pelo hipogonadismo e/ou
mudanças nutricionais antes da reposição de Testosterona, e este aumento
no hematócrito vai se benéfico.
4. Apnéia do Sono. Este distúrbio do sono pode piorar em
homens recebendo terapia com testosterona. Isto se deve provavelmente a
mudanças nos tecidos em volta da faringe. Pacientes portadores de apnéia
noturna devem ser tratados deste distúrbio antes de iniciar terapia com
testosterona.
5. Mudanças em lipoproteínas plasmáticas. Esta área é
muito controversa na terapia de reposição hormonal no homem. A diferença
na incidência na doença aterosclerótica entre o homem e a mulher tem
sido atribuída as diferenças hormonais. Os níveis de HDL começam a
baixar no homem coincidindo com o aumento de Testosterona na puberdade,
que é uma importante evidência. No entanto, uma revisão extensa de
estudos não conseguiu achar uma relação entre HDL e os níveis de
Testosterona circulante. Na verdade, a maioria das evidências mostra que
os níveis de Testosterona são diretamente proporcionais aos níveis de
HDL e presumivelmente menor risco cardiovascular. Estes dados têm sido
interpretados pela comunidade médica como indicativo que reposição de
Testo vai levar a efeitos positivos nos níveis de HDL. No entanto,
quando se olha detalhadamente aos vários estudos de TRH em homens que
são hipogonádicos uma mistura de resultados aparece. A administração de
derivados de Testosterona alquilada causa uma redução substancial nos
níveis de HDL. Dados como este recomendam cuidados com a administração
destes compostos. Quando testosterona é administrada em doses de 100 mg a
cada semana não há mudanças nos lípides, mas se é administrado 200 mg a
cada duas semanas há um declínio significante do HDL. Não existem ainda
estudos a longo prazo com o uso de adesivos.
6. Mudanças prostáticas. É claro que sem a presença de
androgênios a patologia prostática não desenvolve. Câncer de próstata e
hiperplasia benigna da próstata nunca se desenvolve em eunucos. A
próstata aumenta em tamanho durante a TRH em homens idosos. Portanto,
prostatismo sintomático pode se tornar pior com a TRH, e se faz
necessário. Não existe associação clara entre a presença de câncer de
próstata e TRH com testosterona, o que pode ocorrer é que Testosterona
pode acelerar um câncer presente ou oculto durante terapia.
7. Infertilidade. A administração de esteróides sexuais
suprime o eixo Hipotalâmico-Hipófise-Gonadal, resultando na supressão da
espermatogênese. Em muitos casos este procedimento vai levar a
azoospermia completa. Na verdade, estudos multicêntricos demonstraram
que a administração de testosterona é efetiva como contraceptivo.
Monitorando o paciente em Terapia de Reposição Androgênica
Como exposto nos parágrafos anterios, os efeitos adversos destas drogas
são ainda pouco conhecidos e, por iso, se faz necessário monitorar a
longo prazo os efeitos da Reposição Hormonal. O protocolo sugerido, mas
que pode ser modificado para cada paciente é o seguinte:
Antes do tratamento
História Clínica e Exame Físico são indispensáveis, dando atenção especial à pressão arterial e exame retal.
Exames laboratoriais: |
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Estes são os exames que devem ser feitos além dos exames necessários para o diagnóstico de hipogonadismo.
Com 3 meses de tratamento e depois a cada 6 meses
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Conclusão: A Testosterona foi o primeiro hormônio a ser isolado e
sintetizado, no entanto, até hoje pouco se conhece de sua fisiologia, e
estamos começando a entender as vantagens da Terapia de Reposição
Androgênica. A reposição, quando bem indicada, poderá trazer inúmeros
benefícios para os pacientes hipogonádicos.
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