sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Edição 1 738 - 13 de fevereiro de 2002

As idades do sexo
A era pós-Viagra reserva novos tratamentos para atrasar o relógio biológico de homens e mulheres e melhorar o desempenho sexual

 
Gabriela Carelli

A idéia de que as pessoas têm uma idade biológica diferente da que registra a carteira de identidade fez do médico americano Michael Roizen, da Universidade de Chicago, uma celebridade. Roizen montou um teste exaustivo que permite às pessoas saber se poderiam ser mais jovens do que realmente são. Mais que isso, ele ensinou como atrasar a passagem do tempo biológico adotando uma dieta e estilo de vida saudáveis. Agora, parte dos ensinamentos do médico de Chicago está sendo adaptada por outros especialistas para manter e prolongar a saúde sexual de mulheres e homens. A medicina, os laboratórios e os terapeutas estão produzindo soluções para as mais resistentes disfunções sexuais, ajudando a prevenir outras e a manter por décadas um desempenho satisfatório. "Estamos vivendo a revolução pós-Viagra, com avanços notáveis para homens e mulheres", diz o médico João Toniolo Neto, professor da Universidade Federal de São Paulo.
O Viagra, a pílula que alivia oito em cada dez casos de impotência masculina, abriu realmente mais uma fronteira na medicina. Resolvida a questão básica da irrigação sanguínea peniana com o Viagra e os remédios semelhantes que se seguiram a ele, como o Uprima, o foco de atuação dos especialistas agora recaiu sobre questões que indiretamente afetam o desempenho sexual masculino. As mulheres também se beneficiaram de descobertas recentes e da aplicação mais ampla de outros princípios de saúde sexual que andavam esquecidos. A nova revolução tem dois pilares, o restabelecimento da normalidade hormonal e o estímulo da disposição sexual. "As soluções para manter a libido por mais tempo constituem hoje o foco dos especialistas em sexo, e os resultados são animadores", diz Toniolo. A frente de batalha mais promissora é na área hormonal. Há décadas os cientistas sabem que os hormônios, substâncias reguladoras de quase todas as funções corporais, são produzidos em quantidades decrescentes ao longo da vida. Essa queda se dá a partir dos 35 anos. Os homens começam a perder o estoque de testosterona, o hormônio predominante no organismo masculino. Nas mulheres, vai secando progressivamente o estrógeno, que tem queda brusca na menopausa.
A ação mais positiva da medicina nos anos 90 foi repor esses hormônios na esperança de restaurar a saúde e evitar as doenças associadas à falta daquelas substâncias – entre elas quase todas as disfunções sexuais, como impotência e ausência de desejo. A novidade agora é um refinamento da técnica de reposição hormonal. Em vez de simplesmente repor as substâncias que faltam, o que se mostrou um método simplista e carregado de efeitos colaterais, os médicos adotaram técnicas para estimular a produção natural dos hormônios. "As pessoas podem rejuvenescer sexualmente em alguns anos com o restabelecimento do equilíbrio hormonal", diz o médico americano Irwin Goldstein, da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston. Goldstein é um dos autores do teste que permite avaliar a idade sexual de homens e mulheres publicado com esta reportagem.
"A estratégia agora não é mais dar o peixe, mas ensinar a pescar", diz Geraldo Medeiros, professor de endocrinologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos pioneiros da reposição hormonal no Brasil. Há diversas maneiras de estimular a produção natural de hormônios com reflexos positivos no desempenho sexual. Mas isso não é tudo. "É preciso querer ter boa saúde sexual, o que é bem mais complexo do que parece", afirma Goldstein. Em sua clínica, ele precede todos os tratamentos com terapias que tentam descobrir eventuais entraves psicológicos dos pacientes. Mesmo para esses bloqueios emocionais existem hoje remédios que podem removê-los ou preparar a pessoa para obter ainda mais benefícios da psicoterapia. Boa parte das disfunções sexuais na idade adulta é causada por stress, ansiedade e depressão. Até bem pouco tempo atrás, para desânimo dos sexólogos, as mesmas drogas que aliviavam a ansiedade eram depressoras da libido. "Temos agora uma família de drogas ansiolíticas e antidepressivas que não prejudicam o desejo sexual", diz o médico Toniolo.
 
Claudio Rossi
O médico Eduardo Monteiro malha na academia: pré-hormônio e namorada dezoito anos mais nova
Foram o stress e a ansiedade que atrapalharam a vida sexual do casal paulista Laner Pierro, de 52 anos, e Marilia Amaral, 48. Juntos há dezesseis anos, tinham entrado naquela fase menos aquecida do relacionamento. As crises de stress e ansiedade de Pierro minaram seu potencial sexual. Ele passou a ter ejaculação precoce. Os médicos receitaram ao casal doses de antidepressivos mais modernos. "Os resultados não podiam ser melhores", diz Pierro. O primeiro passo, como lembra Goldstein, é manifestar abertamente a insatisfação e buscar ajuda. "Procuro qualidade de vida e com isso preservar uma boa forma física e sexual", observa a dona-de-casa Edna Nogueira dos Santos, 56 anos, que há seis começou a fazer tratamento hormonal para aliviar os sintomas da menopausa.
Os médicos calculam que mais de 30% das brasileiras de classe média e alta que estão na menopausa se valem dessa técnica (o tratamento chega a custar 3.000 reais por ano). O objetivo é prolongar a saúde e o vigor sexual. A reposição diminui em 70% os riscos de fraturas ósseas, decorrentes da osteoporose. Quem se decide por esse caminho precisa de acompanhamento médico, pois os remédios aumentam a probabilidade de câncer de mama em quem tem histórico familiar da doença. Além dos hormônios tipicamente femininos, como estrógeno e progesterona, as terapias mais modernas para mulheres incorporaram nas doses também o hormônio masculino por excelência, a testosterona. A idéia é repor a pequena parcela de testosterona natural fabricada pelo organismo feminino. "A soma dos dois, o estrógeno e a testosterona, melhora muito o desempenho sexual e a libido", diz o endocrinologista Medeiros. "As mulheres hoje associam diretamente a saúde ao bem-estar sexual", afirma a médica francesa Marie-Aline Limouzin-Lamothe, que acaba de divulgar os resultados de ampla pesquisa com mulheres européias sobre os benefícios e riscos dos tratamentos hormonais.
Na linha terapêutica de ajudar o corpo a produzir a substância que a idade rouba, existem alternativas que podem ser tentadas mesmo sem orientação médica direta. A mais popular delas são as cápsulas de dehidroepiandrosterona (Dhea), que teoricamente estimularia a produção de testosterona. Ainda sem comprovação científica cabal dessa propriedade, a Dhea tornou-se a cápsula sem receita mais vendida nos Estados Unidos. O cardiologista brasileiro Eduardo Monteiro, de 53 anos, receitou-se cápsulas diárias de Dhea quando começou a sentir os efeitos da idade. Pai de um filho de 32 anos, Monteiro tem uma namorada de 25 e se exercita com pesos quatro vezes por semana numa academia. "Tomo Dhea de forma preventiva e vem funcionando muito bem", conta o médico. A prevenção retarda o relógio do envelhecimento sexual. Os médicos descobriram isso de maneira empírica ao tratar jovens com disfunções sexuais. Uma pesquisa feita entre adultos brasileiros encontrou uma proporção grande de homens em torno de 25 anos com queixas de falta de orgasmo. Levantamentos semelhantes feitos nos Estados Unidos nos anos 90 ajudaram a entender os fatores que mais afetam diretamente a saúde sexual mesmo quando o corpo parece estar em plena forma. O hábito de fumar, a má alimentação, o excesso de álcool e a falta de sono atingem em especial duas áreas muito sensíveis, o cérebro e a função sexual – igualmente de homens e mulheres. O melhor ainda está por vir: parar de fumar, adotar hábitos saudáveis de vida, como caminhadas e dietas de baixas calorias, não apenas acerta o relógio biológico. Ajuda a atrasá-lo. "Em alguns casos, o ganho na idade sexual é de um punhado de anos", diz o médico Irwin Goldstein. "Mesmo quando o benefício geral para o organismo não é tão sensível."

FONTE: http://www.dhea.com.br/materia_veja_dhea.htm

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