De acordo com os nutricionistas idealizadores, “o como se come - as crenças, pensamentos e sentimentos sobre comida - são tão ou mais importantes do que simplesmente o que se come”. O comportamento alimentar está diretamente relacionado com a nossa cultura, a sociedade em que vivemos, nossa relação com a comida, clima, ecologia, aspectos biológicos (idade e sexo) e econômicos.
Os seres humanos são animais onívoros, podendo consumir tanto alimentos de origem vegetal como de origem animal. No processo evolutivo da espécie, descoberta do fogo e confecção de instrumentos, passou a caçar e introduziu a agricultura, modificando a forma como o alimento inicialmente era obtido. Com a evolução tecnológica e aumento da população mundial, novas técnicas foram elaboradas para aumentar a produção e variedade dos alimentos (plantação, criação de animais, etc...).
Com tanta variedade alimentar, contraditoriamente começamos a restringir grupos alimentares, a ter medo dos alimentos. Nunca foi tão difícil chegar a um consenso do que é alimentação saudável. Mas saudável para quem? Temos muitas informações, linhas de pesquisas, tendências, estudos... mas há certo ou errado, mocinhos e vilões?
Não, não há mocinhos e vilões. O alimento isolado não tem todo este poder. Estaríamos sendo muito reducionistas se acreditássemos que somos apenas o que comemos e que nos alimentamos apenas para obter energia!
Segundo Claude Fishler, sociólogo francês: “comida não é só nutrientes, calorias, proteínas, vitaminas, etc. Existem regras que estão implícitas no ato de comer, que os comedores seguem sem ter consciência que estão seguindo, como as coisas que se pode comer ou não, as horas em que se deve comer, o número de refeições diárias, com quem se deve comer, qual a etiqueta que se deve seguir”.
Nutrição comportamental: aspectos sociais, emocionais e sociológicos da alimentação (Foto:Getty Images)
Em cada sociedade, a comida possui um simbolismo, como exemplo na Índia a vaca é sagrada e na China é comum comer cachorro e insetos.
Questionamos como os franceses são magros e têm baixa incidência de aterosclerose apesar da grande ingestão de gordura saturada, de beberem vinho, comerem queijos e pães. Segundo o psicólogo americano Paul Rozin, é preciso entender o valor que eles dão ao ato de comer: comem pequenas porções, não beliscam, valorizam o ato de comer (degustando e valorizando o prazer), comem em família e com amigos. Já os americanos comem porções maiores, realizam as refeições em carros ou andando, petiscam.
Além da grande oferta de alimentos, aumento da ingestão alimentar, comemos alimentos com densidade energética maior (mais calorias) e estamos gastando menos energia para realizar atividades básicas do dia a dia. Com o avanço tecnológico e melhora dos meios de transportes, estamos poupando mais energia.
Precisamos valorizar mais o ato de comer:
- Resgatar as refeições em família e com amigos;
- Mastigar mais lentamente os alimentos, permitindo que fiquem mais tempo na boca, gerando mais prazer e promovendo maior saciedade;
- Ingerir alimentos mais frescos, regionais e na safra (período de colheita, melhor qualidade nutricional e preço do alimento);
- Resgatar o ato de cozinhar.
saiba mais
Como nutricionista, meu papel é de grande ouvinte para negociar; melhorar a relação e o comportamento com a comida; elaborar um programa alimentar individualizado
levando em conta preferências e aversões alimentares, aspetos clínicos,
prática esportiva e estilo de vida; não julgar; introduzir todos os
grupos alimentares; estimular a experimentar novos alimentos.O paladar não é estático, podemos aprender a gostar dos alimentos, modificando a preparação, experimentando várias vezes. Precisamos nos acostumar com novas consistências e variações dos sabores amargo, doce e salgado. O ser humano é altamente adaptável, está pronto para constantes modificações, precisa apenas se permitir, querer mudar e experimentar novos sabores e prazeres.
Portanto, não existe a melhor dieta ou programa alimentar, mas aquele ao qual você melhor se adapta e que atende suas necessidades fisiológicas, biológicas, econômicas e emocionais.
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